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quinta-feira, 2 de maio de 2013

O Bosque dos Carvalhos Que Cantam




Os sapatos já não lhe serviam tão bem como quando a mãe lhos tinha oferecido o ano passado mas ainda eram os seus favoritos e, mesmo com dores nos pés, descia com eles, a correr, a estrada de terra batida que ia dar ao Bosque dos Carvalhos que Cantam. Este era o nome secreto que usava quando estava em silêncio, dizê-lo em voz alta era trair a confiança do orgulhoso carvalho, rei de todos os carvalhos do mundo.

E Eva nunca trairia o seu guardião a quem respeitava como um pai. Ao principio tinha contado à mãe e à irmã que o bosque falava-lhe e cantava-lhe mas depressa percebeu que elas eram surdas à sua sabedoria e gostavam de ser.

Era muitas vezes assim com as pessoas deste planeta, proibiam-se de uma série de liberdades com medo de voar e depois viviam infelizes nas suas gaiolas. Amava todas as pessoas que conhecia, como irmãos, mas sabia que a maior parte delas não podiam saber dos seus segredos. Agora, já não falava muito sobre estas tardes mágicas onde aprendia e partilhava com as árvores e as plantas do bosque. Guardava os seus ensinamentos para si e pensava que, quando crescesse mais, ia poder contar tudo sem que lhe levassem os contos por fantasia de criança.

Os adultos eram tão fáceis de entender mas tão inocentes na sua austeridade. Com armaduras de amarguras tiravam a magia ao Mundo e sofriam quando a procuravam e ela já não lá estava; não percebiam que eles é que a tinham assustado para longe? As árvores também gostavam dos adultos. Eva tinha perguntado porque é que a mãe e a irmã não ouviam as canções e o Carvalho tinha-lhe contado que elas ouviam apenas o ruído e não reconheciam a melodia. Tinham-se esquecido de como é que se fazia. Mas Eva não ficou triste, não sentiu a tragédia humana. Era consciente demais para sentir tristeza, só conseguia ver a grandeza.

Naquele dia dos sapatos apertados, quando entrou no bosque e chamou mentalmente pelo amigo Carvalho, ele não lhe respondeu. Seria por já estar tão crescida? Os sapatos afinal, já não lhe serviam. Se calhar estava a esquecer-se da melodia como a mãe e a irmã. Chamou outra vez e não ouviu nada. Depois, ao fim de uns minutos de espera e silêncio ouviu qualquer coisa a roncar. Já estava na hora de lanchar?

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